segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

BODY ART - DESENHA OBAMA...


Performers com corpos pintados posam para formar o rosto do presidente dos EUA, Barack Obama, durante apresentação do artista suíço Dave no Monte Filopapou, em Atenas, nesta segunda-feira (16). O ato faz parte da Maratona da Arte, que vai viajar pelo mundo até 2050. (Foto: Reuters)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

ARTE PÚBLICA...

SOBRE ARTE PÚBLICA, por Carla Zaccagnini

Tenho pensado, com insistência, na dificuldade de encontrar (ou realizar) projetos artísticos que possam chamar-se públicos. Públicos não por terem lugar em ruas, praças ou outros espaços abertos pelos quais passa muita gente sem ter sido convidada e sem pagar ingresso, mas por estabelecerem uma esfera de discussão que vá além de círculos limitados por relações pessoais ou por interesses e repertórios específicos do circuito de arte. Públicos por nos dizerem respeito para além do questionamento ou da afirmação de novos e tradicionais paradigmas artísticos. Públicos por serem capazes de encontrar reflexos, ecos, possibilidades de encaixe para construção de sentido e experiências anteriores que os complementem nas diferentes pessoas que cruzam uma mesma rua, cada qual em seu caminho. Públicos como as catástrofes naturais, talvez.

Estado de calamidade pública é o que decretam as autoridades responsáveis quando uma comunidade não é capaz de recompor-se de um infortúnio sem auxílio externo. É então que cidades próximas providenciam ambulâncias e disponibilizam leitos de hospital, países vizinhos enviam remédios e equipes médicas, e as pessoas que viram na TV doam alimentos não-perecíveis e cobertores, se é inverno. Há algo nas enchentes e terremotos que nos iguala.

Os recordes são assim também, têm o poder de nos mostrar até onde pode o homem: quão veloz pode correr, quão alto pode saltar, quanto tempo suporta determinado esforço. Algumas expedições espaciais e descobertas arqueológicas são capazes de provocar o mesmo tipo de identificação. Diante das forças da natureza ou de conquistas inequívocas estamos todos de um lado só – somos humanos, descendentes daqueles que fizeram fogo pelas primeiras vezes. Em alguns breves momentos, temos viva consciência de que a continuação da espécie e da história passa por nós.

Tenho pensado, com insistência, nas dificuldades de realizar projetos artísticos que atinjam uma dimensão pública semelhante. Dotados, ainda, da cumplicidade e das críticas que podem despertar as obras e os feitos humanos menos unívocos. À diferença do esporte, a arte não é certeira, não pode ser medida com exatidão pelo número de pontos, de segundos ou de metros atingidos. Em última instância, os significados de uma obra ou ação artística são construídos no encontro entre a subjetividade daquele que a propõe e a subjetividade de cada um daqueles que ativamente a tomam para si.

No entanto, entre o momento em que a proposição começa a tomar forma e o momento em que é ativada, por um e outro sujeito, deve haver um desejo de alcance público. Quando se decide apresentar publicamente o resultado ou o processo de um pensamento, é porque se acredita que ele pode ser pertinente para outros. E não somente para aqueles com quem sabidamente nos entendemos e frequentemente nos encontramos, mas também para outros com quem compartilhamos coisas que talvez ainda não tenham nome.

É impossível saber de antemão quais sujeitos virão ao encontro daquilo que pretendemos investigar. Mas talvez haja ressonâncias universais em muitas das experiências e buscas particulares capazes de gerar reações artísticas. O que nos move não é uma ou outra circunstância, mas o que nelas habita de abstrações humanas que nos acompanham há milênios e que podem ser reconhecidas e reinventadas, de maneira e com formas diferentes, pela maioria dos homens.

Por mais processual e aberto que seja um projeto, parece-me necessário, desde o início, lançar luz sobre alguns pontos em que projetamos o reflexo de nossas inquietações, que podem também ser de outro (como normalmente são). Possibilitar, assim, que o outro reconheça, ainda que fora de lugar, perguntas que já se fez; e contribua, com seus saberes e desejos de saber, na construção de uma nova realidade comum. Trata-se não só de propor o encontro com conteúdos que julgamos de interesse público, mas de fazê-lo de maneira a despertar no outro a consciência de seu lugar ativo, de sua responsabilidade diante do estado das coisas, do estado da arte.